ISSN 2674-8053

Autor: Rodrigo Cintra

Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X
A arrogância do Ocidente e a ascensão da China
Américas, Ásia, China, Estados Unidos, Europa, Organizações Internacionais, União Europeia

A arrogância do Ocidente e a ascensão da China

Do latim progressus, vem a palavra progresso indica avanço, mudança de algo para melhor em relação ao passado. Ainda que a ideia seja antiga, os contornos que apresenta hoje foram forjados no Iluminismo, alcançando sua “automaticidade” com a Revolução Industrial. Assim, hoje nos acostumamos com a ideia de que hoje estamos numa condição melhor do que ontem e que continuaremos a avançar. Em si a proposta não é descabida, mas carrega o risco de nos tornarmos arrogantes, acreditando que hoje vivemos o que há de melhor (para uma leitura mais filosófica dessa perspectiva indico a leitura de A Rebelião das Massas, de Jose de Ortega Y Gasset). Especialmente em função das tecnologias, temos provas concretas de que estamos no momento de maior avanço na história da Humanidad...
O fim de um governo que não começou
Américas, Brasil

O fim de um governo que não começou

Presidente Jair Bolsonaro A memória na política é curta, até porque a política é a arte da paixão, e as paixões são efêmeras. Dada a complexidade das sociedades contemporâneas, os cidadãos não têm tempo, competência ou mesmo desejo para se engajar em todas as discussões que passam pela política, e o resultado disso é que queremos encontrar políticos que nos apresente uma visão de mundo que compreendemos e gostamos, simplificando toda a complexidade e nos fazendo acreditar que o mundo é simples.  Em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro conseguiu apaixonar 57,8 milhões de eleitores brasileiros. Uma pequena parcela desses eleitores conhecia as propostas difusas de Bolsonaro, uma grande maioria via no capitão reformado uma chance de não ter mais o PT no governo. Por mais que tenh...
O que é o America First?
Américas, Estados Unidos, Europa, França, Reino Unido

O que é o America First?

Ilustração de Eleanor Shakespeare paraTIME Ao longo da história dos Estados Unidos é possível perceber um movimento pendular em torno do eixo Isolacionismo-Intervencionismo. Recentemente há uma tendência de buscar analisar de forma antecipada a política externa dos presidentes dos EUA em função do partido político e sua pretensa ligação com um dos extremos deste eixo (Republicanos com o isolacionismo e Democratas com o intervencionismo). Proponho uma análise que entende esses movimentos de forma mais alongada, baseado em eras. Para entender essa leitura, a primeira pergunta que devemos nos colocar é: o que significa a expressão America First e de onde ela vem? A expressão America First (“Primeiro os Estados Unidos”, numa tradução livre) remonta ao presidente Thomas Jefferson (ter...
Criméia 7 anos depois: por que ainda mantemos as sanções comerciais?
Europa, Rússia, Ucrânia

Criméia 7 anos depois: por que ainda mantemos as sanções comerciais?

Há exatos 7 anos (16/03/2014) era organizado um referendo para a anexação/junção da Criméia à Rússia, deixando de ser um território ucraniano. Na época, o resultado foi de 97% a favor dessa mudança. A comunidade internacional condenou o referendo, dizendo que tinha sido fraudado e realizado sob ameaças. O resultado alto também se deve a um boicote daqueles que eram contrários à junção. Todos esses anos se passaram e pouco se fala da região atualmente. Qual o papel que a comunidade internacional deve desempenhar a partir de agora? Algumas organizações de direitos humanos têm acusado o governo russo de repressão local, com a perseguição de dissidentes – especialmente os muçulmanos da etnia Tatar, alguns considerados terroristas. Ao mesmo tempo, pesquisas internas têm mostrado que a p...
A ineficácia das sanções internacionais
Américas, Cuba, Estados Unidos, Venezuela

A ineficácia das sanções internacionais

As sanções internacionais são um instrumento de política externa extremo, geralmente adotados quando as vias diplomáticas não funcionam como esperado. As sanções comerciais têm como objetivo isolar o país dos fluxos comerciais internacionais, levando a um estrangulamento de sua economia. Com isso, espera-se que a população local sinta as limitações e passe a pressionar seus governantes para alterar a situação que levou à sanção internacional. Em termos lógicos parece ser uma boa política, mas não é. Ainda que a sanção seja direcionada para um determinado governo, na prática seus principais impactos são sobre a população, pessoas que têm poucas, quando alguma, condição de inflenciar no comportamento governamental. A limitação do acesso a mercadorias internacionais, bem como o impact...
Parem de falar que estamos numa nova Guerra Fria
Américas, Brasil, Estados Unidos, Europa, Rússia

Parem de falar que estamos numa nova Guerra Fria

Charge postada no Global Village Space É comum vermos análises falando que estamos entrando numa nova Guerra Fria. Geralmente isso acontece a cada movimento mais incisivo feito pelo governo Chinês. Basicamente a ideia é que os Estados Unidos estariam em um polo de poder e a China viria para ocupar o polo oposto, questionando o poderio norte-americano. Ainda que possa ser verdade a questão das tensões em torno das projeções de poderes, é incorreto dizer que isso é uma Guerra Fria. O que foi a Guerra Fria? De uma forma mais superficial foi o embate indireto entre Estados Unidos e União Soviética (basicamente sustentado na corrida atômica). Em termos mais estruturais, a grande questão foi a competição entre dois modelos de organização político-econômica auto-excludentes. Em última i...
Plano Colombia Crece e seu impacto sobre a Venezuela
Américas, Colômbia, Estados Unidos, Venezuela

Plano Colombia Crece e seu impacto sobre a Venezuela

Foto: Instagram/Iván Duque Em agosto (2020) foi anunciado o lançamento do Plano Colombia Crece, resultado da cooperação militar entre os governos da Colômbia e dos Estados Unidos e focado no combate ao narcotráfico. Pode-se dizer que é uma segunda fase do Plano Colombia, responsável pela injeção de USD 7 bilhões dos EUA na Colômbia entre 2000 e 2016. O acordo acontece num momento em que a Colômbia vivencia níveis alarmantes de violência. Já foram registrados no país, somente em 2020, 46 massacres e mais de mil líderes sociais assassinados. Até pouco tempo as FARC dominavam o interior do país e, com os acordos de paz, caberia ao Estado colombiano “reocupar” esse espaço. No entanto, o Estado colombiano é claramente fraco no interior, com uma clara ausência de políticas públicas que...
Os BRICS como um ensaio para o novo Bretton Woods
África, África do Sul, Américas, Ásia, Brasil, BRICS, China, Europa, Índia, Organizações Internacionais, Rússia

Os BRICS como um ensaio para o novo Bretton Woods

Foto: Divulgação/The Economist 2015 é um ano potencialmente importante para o posicionamento internacional brasileiro, foi quando foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento (https://www.ndb.int/) pelos países formados do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O Banco veio como uma alternativa aos já consolidados Banco Mundial (https://www.worldbank.org/en/who-we-are/ibrd) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (https://www.iadb.org/pt/sobre-o-bid/visao-geral). Ainda que o primeiro também esteja sob forte influência europeia, ambos estão numa esfera de controle dos Estados Unidos. Em termos gerais, o Banco dos BRICS se foca no apoio ao desenvolvimento de obras estruturais, especialmente ligadas à infraestrutura. Por outro lado, tem também uma função política import...
De Pompeo à ONU, a difícil sustentação da ideia de não-interferência
Américas, Brasil, Estados Unidos, Organizações Internacionais

De Pompeo à ONU, a difícil sustentação da ideia de não-interferência

Foto William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress O desgaste da visita do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, à Roraima só aumenta. No artigo O Brasil entra no jogo eleitoral dos EUA vimos as razões eleitoreiras da visita, agora vemos impacto sobre a própria política brasileira. Interessante observar um posicionamento tímido tanto do Ministério de Relações Exteriores quando da presidência do Brasil enquanto há uma grita de parlamentares de destaque. O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia declarou que a visita "não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa". No Senado Federal não foi diferente, a ponto da Comissão de Relações Exteriores ter aprovad...
Brasil entra no jogo eleitoral dos EUA
Américas, Brasil, Estados Unidos

Brasil entra no jogo eleitoral dos EUA

Foto: Jason Leysner/AFP Em 18/9/2020 o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, fez uma rápida visita ao Brasil. Dada a importância do cargo era de se esperar uma agenda importante entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil. Mas a realidade foi bem diferente: o governo brasileiro abriu as portas do território para que o Secretário pudesse fazer campanha política para a re-eleição do atual presidente Donald Trump. A visita se quer ocorreu em Brasília, onde poderíam ser adequadamente implementados todos os protocolos exigidos para um Secretário dos Estados Unidos (equivalente a um ministro, no Brasil). Também não serviu para as trocas de intenções ou mesmo assinaturas de acordos de cooperação. Foi uma visita inusitada à Roraima. Por que? Para compreender melhor a...