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Autor: Rodrigo Cintra

Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X
O fim da globalização como a conhecemos
Américas, Ásia, Banco Mundial, Canadá, China, Estados Unidos, México, OMC, Organizações Internacionais, Sul Global

O fim da globalização como a conhecemos

O modelo de globalização que dominou as últimas décadas, baseado na liberalização comercial, na mobilidade irrestrita de capitais e na primazia das cadeias globais de valor, dá sinais de exaustão. O que se observa atualmente não é o colapso da globalização em si, mas uma metamorfose silenciosa e estrutural. Guerras comerciais, rearranjos regionais e disputas pelo controle de tecnologias estratégicas configuram um novo ciclo de fragmentação econômica, no qual as prioridades nacionais e os interesses geopolíticos se impõem sobre a lógica da integração irrestrita. A ordem econômica mundial que emergiu de Bretton Woods está sendo desmontada em favor de uma configuração mais dispersa, volátil e competitiva. O sistema internacional instituído após a Segunda Guerra Mundial, com instituições co...
Multipolaridade: o que é e por que ela muda o sistema internacional
África, África do Sul, Américas, Brasil, Estados Unidos, Europa, G7, Irã, Organizações Internacionais, Oriente Médio, OTAN, Rússia, Turquia

Multipolaridade: o que é e por que ela muda o sistema internacional

Desde o fim da Guerra Fria, o mundo tem sido amplamente descrito como unipolar, com os Estados Unidos no centro da política, economia e segurança globais. Mas esse cenário está mudando. A emergência de novas potências, o enfraquecimento das instituições multilaterais e o avanço de projetos regionais autônomos configuram uma transição em curso: o mundo caminha para uma ordem multipolar. Esse conceito, frequentemente citado, é mais do que uma descrição técnica — ele traduz uma disputa por poder, influência e modelos alternativos de organização global. Multipolaridade significa, essencialmente, um sistema internacional em que várias potências têm peso equivalente ou competitivo, sem que uma delas consiga impor sua vontade sobre as demais. Isso não significa ausência de hierarquias, mas sim...
A nova corrida dos minerais: lítio, terras raras e o mapa do poder do século XXI
África, Américas, Estados Unidos, Organizações Internacionais, República Democrática do Congo, União Europeia

A nova corrida dos minerais: lítio, terras raras e o mapa do poder do século XXI

Nos séculos passados, o poder global foi moldado por quem controlava o ouro, o petróleo ou as rotas comerciais. No século XXI, essa lógica se atualiza — agora, os grandes recursos estratégicos são o lítio, as terras raras, o cobalto e outros minerais cruciais para a transição energética e a revolução tecnológica. Uma nova corrida global está em curso, envolvendo potências, corporações e blocos econômicos que disputam acesso, controle e influência sobre depósitos geológicos antes periféricos. E, como toda corrida de poder, ela reorganiza o tabuleiro geopolítico global. O lítio é o símbolo mais visível dessa nova era. Elemento essencial para baterias de carros elétricos, celulares e sistemas de armazenamento de energia, ele é abundantemente encontrado em três países que compõem o chamado ...
A África no centro do tabuleiro: por que o continente virou uma arena geopolítica global
África

A África no centro do tabuleiro: por que o continente virou uma arena geopolítica global

Durante muito tempo, a África foi tratada como periferia nas análises internacionais — ora como espaço de intervenção humanitária, ora como fonte de recursos naturais. No entanto, nas duas últimas décadas, o continente deixou de ser apenas receptor de influência externa e tornou-se o novo epicentro das disputas geopolíticas do século XXI. Grandes potências, como China, Estados Unidos, Rússia, Turquia e potências regionais do Golfo, vêm travando uma silenciosa mas intensa disputa por presença, acesso e influência em solo africano. E os motivos são estratégicos: recursos, rotas, votos diplomáticos e projeção de poder. A primeira razão para essa centralidade é demográfica. A África será, nas próximas décadas, o continente com maior crescimento populacional do planeta. Projeções indicam que...
Corexit expõe a hipocrisia ambiental do Ocidente
Américas, Brasil, Estados Unidos, Europa, Organizações Internacionais, Reino Unido, União Europeia

Corexit expõe a hipocrisia ambiental do Ocidente

O uso do dispersante químico Corexit durante o desastre ambiental do Deepwater Horizon, em 2010, revelou não apenas os riscos à saúde humana e ao meio ambiente, mas também uma profunda contradição nas políticas ambientais dos países ocidentais. Enquanto Estados Unidos e União Europeia baniram o uso do produto devido aos seus efeitos tóxicos, a produção do Corexit foi transferida para países como Brasil e Reino Unido, evidenciando uma prática de deslocamento de riscos para nações com regulamentações ambientais menos rigorosas. Durante o vazamento da plataforma Deepwater Horizon, aproximadamente 1,84 milhão de galões de Corexit foram utilizados para dispersar o petróleo no Golfo do México. Estudos subsequentes indicaram que a mistura de Corexit com petróleo aumentou a toxicidade do óleo e...
Segurança da informação se torna arma geopolítica na disputa entre potências
Américas, Estados Unidos, Europa, França

Segurança da informação se torna arma geopolítica na disputa entre potências

A segurança da informação deixou de ser apenas uma preocupação técnica ou empresarial e passou a ser tratada como uma questão central de soberania nacional e disputa geopolítica. Os Estados Unidos lideram esse processo de militarização do ciberespaço e da inteligência artificial (IA), transformando dados, algoritmos e infraestrutura digital em ativos estratégicos comparáveis a armas convencionais. Essa abordagem tem gerado tensões crescentes com a China e afetado diretamente aliados europeus, como no caso da França. A criação do Comando Cibernético dos Estados Unidos (USCYBERCOM) em 2010 marcou o início dessa nova era. Integrado ao Departamento de Defesa, o USCYBERCOM unificou operações ofensivas e defensivas no ciberespaço, atuando em conjunto com a Agência de Segurança Nacional (NSA)....
A nova Guerra Fria: o mundo dividido entre chips, alianças e soberanias
Américas, Ásia, China

A nova Guerra Fria: o mundo dividido entre chips, alianças e soberanias

O mundo de hoje não vive uma guerra convencional, tampouco repete os padrões ideológicos da Guerra Fria do século XX. Mas há, em curso, uma disputa sistêmica entre Estados Unidos e China que redefine alianças, tecnologias, rotas comerciais e valores políticos. Esta nova Guerra Fria não se trava com tanques na fronteira da Alemanha, mas com chips, dados, corredores marítimos e narrativas. Trata-se de uma competição entre dois projetos de poder global que disputam não apenas influência, mas a capacidade de moldar o futuro. Ao contrário da Guerra Fria original, marcada pela oposição entre capitalismo e comunismo, a atual disputa não opõe sistemas ideológicos claramente distintos. A China incorporou mecanismos de mercado, mas sob um regime de comando estatal. Os Estados Unidos defendem a de...
Xenofobia e juventude na Europa: o estrangeiro como vilão do custo de vida
Alemanha, Espanha, Europa, França, Holanda, Hungria, Itália, Portugal

Xenofobia e juventude na Europa: o estrangeiro como vilão do custo de vida

Manifestação em frente ao Portão de Brandemburgo, Berlim. Foto do autor tirada em maior de 2025. A Europa vive um novo ciclo de tensões identitárias e sociais em que o estrangeiro volta a ocupar o lugar de bode expiatório. Em meio a uma fase de desglobalização econômica e recuo de políticas de integração, juventudes em diversos países europeus têm canalizado seu descontentamento com o aumento do custo de vida contra imigrantes e turistas estrangeiros. O ressentimento, inicialmente material e econômico, se converte em discurso identitário e excludente, transformando o “estranho” em ameaça. O custo de vida tem subido de forma expressiva nos últimos anos em cidades como Dublin, Berlim, Amsterdã, Lisboa e Barcelona. Esse fenômeno é alimentado por uma série de fatores: escassez de moradia...
O império do risco: os limites e as contradições do projeto chinês
Ásia, China

O império do risco: os limites e as contradições do projeto chinês

A ascensão da China nas últimas quatro décadas é, sem dúvida, um dos maiores fenômenos econômicos e geopolíticos da história contemporânea. Um país que, em 1980, era majoritariamente rural, pobre e isolado, transformou-se em superpotência industrial, tecnológica e diplomática. No entanto, por trás do êxito impressionante, emergem fragilidades estruturais que colocam em xeque a sustentabilidade de seu modelo. A China é hoje um império moderno — mas também um império de riscos, tensões e contradições internas que desafiam suas ambições globais. Um dos principais gargalos é demográfico. Após décadas de política do filho único, o país enfrenta hoje uma taxa de natalidade em queda acelerada, uma população envelhecida e um crescimento populacional negativo. A China envelhece antes de enriquec...
Temas Globais

O Brasil precisa blindar suas instituições contra pressões e distorções externas

A influência dos Estados Unidos sobre o Brasil tem gerado tensões significativas, especialmente quando decisões internas brasileiras são interpretadas de forma descontextualizada por atores políticos norte-americanos. Casos recentes envolvendo figuras como Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli ilustram como pressões externas podem distorcer a compreensão internacional sobre o funcionamento das instituições brasileiras. Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, tem buscado apoio entre parlamentares republicanos para pressionar o governo brasileiro e o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele alega que o Brasil vive sob uma ditadura, desconsiderando o funcionamento regular das instituições democráticas do país. Essa narrativa tem sido utilizada para justificar pedidos de sanções contra au...