ISSN 2674-8053 | Receba as atualizações dos artigos no Telegram: https://t.me/mapamundiorg

Américas

A guinada estratégica dos EUA e o risco de uma tendência autocrática
Américas, Estados Unidos

A guinada estratégica dos EUA e o risco de uma tendência autocrática

O discurso do Secretário Pete Hegseth em Quantico, dia 30/09, marcou uma inflexão rara na política de defesa norte-americana. Ao anunciar o fim da “era do Departamento de Defesa” e proclamar que “a única missão é a guerra — preparar-se para travá-la e vencê-la”, ele não apenas trocou uma nomenclatura institucional. Reconfigurou o próprio sentido da presença militar dos Estados Unidos no mundo. Desde 1949, a defesa e a dissuasão eram a base discursiva que orientava a função das Forças Armadas; agora, a ênfase desloca-se para a ofensiva, para a vitória, para a letalidade. Essa transição semântica é, na prática, uma redefinição do que significa ser militar americano: não mais defensor, mas guerreiro. Essa mudança de identidade veio acompanhada de medidas concretas. A imposição do “padrão m...
Do Departamento de Defesa ao Departamento de Guerra: a redefinição da missão militar dos EUA no discurso do Secretário Pete Hegseth
Américas, Estados Unidos

Do Departamento de Defesa ao Departamento de Guerra: a redefinição da missão militar dos EUA no discurso do Secretário Pete Hegseth

No dia 30 de setembro de 2025, em Quantico, Virgínia, o Secretário de Guerra Pete Hegseth dirigiu-se a generais e oficiais de bandeira em um discurso que marcou um divisor de águas na política de segurança dos Estados Unidos. Pela primeira vez desde 1949, quando foi criada a denominação “Departamento de Defesa”, um líder civil de alto escalão declarou de forma enfática que essa era se encerrava. O novo enquadramento institucional, agora sob o nome de “Departamento de Guerra”, reposiciona a função central das Forças Armadas: não mais dissuadir ou prevenir conflitos, mas preparar-se para travá-los e vencê-los. O pronunciamento, permeado por diretrizes concretas sobre padrões físicos, cultura organizacional, regras de engajamento e alianças internacionais, constitui não apenas uma mudança ret...
A lógica das assinaturas na ordem internacional
Américas, Ásia, Brasil, Coréia do Sul, Estados Unidos, Japão, Paquistão, União Europeia

A lógica das assinaturas na ordem internacional

Hoje em dia, a maioria das pessoas entende bem o modelo de assinatura aplicado a serviços digitais. Quem usa plataformas como Netflix, Spotify ou mesmo aplicativos de produtividade já está familiarizado com a lógica: existe uma versão gratuita, com limitações, e uma versão paga, mais completa, que oferece benefícios exclusivos. Quem quer acesso total, sem anúncios, com qualidade superior e mais funcionalidades, precisa pagar ou atender determinadas condições. Esse mesmo raciocínio passou a estruturar, de forma bastante visível, a política externa dos Estados Unidos sob o governo Trump em seu segundo mandato. No centro dessa nova lógica está uma ideia simples: os países que desejam manter acesso privilegiado ao mercado americano, a investimentos estratégicos ou à proteção diplomática dev...
Entre promessas e ameaças: o impacto do discurso de Netanyahu na ONU
África, África do Sul, Américas, Argélia, Argentina, Austrália, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Europa, Israel, Naníbia, Oceania, ONU, Organizações Internacionais, Oriente Médio, Palestina, Reino Unido

Entre promessas e ameaças: o impacto do discurso de Netanyahu na ONU

A presença de Benjamin Netanyahu na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2025 não foi apenas mais uma fala de chefe de Estado num fórum internacional. Foi, para muitos observadores, a tentativa de reafirmar a centralidade da narrativa israelense no conflito com os palestinos num momento em que o equilíbrio simbólico e diplomático começa a se deslocar. Mas também foi, para outros, uma evidência do isolamento crescente de Israel diante de um mundo que, embora dividido, já não acata sem reservas os termos colocados por Tel Aviv. O discurso provocou reações distintas entre países, evidenciando que a disputa entre Israel e Palestina não é apenas territorial ou militar: ela se dá também no campo das versões, dos afetos e das leituras históricas. A fala de Netanyahu veio poucos di...
Os anos 1930: crise, angústia e decisões dramáticas
Américas, Estados Unidos

Os anos 1930: crise, angústia e decisões dramáticas

Para quem não está familiarizado com a história econômica dos Estados Unidos, pode parecer distante falar de decisões tomadas há quase um século — mas a década de 1930 guarda um ensinamento poderoso para os dias de hoje. Neste artigo, explico com clareza o que ocorreu naquele período, por que certas escolhas foram feitas, quais foram as consequências e como esse episódio ressoa com o que acontece agora no governo americano. A década de 1930 nos EUA começou em tragédia econômica. Em 1929, a Bolsa de Valores de Nova York sofreu uma queda abrupta, episódio que entrou para a história como a “quebra de 1929”. Esse colapso financeiro foi o estopim de uma crise mais ampla: bancos faliram, o crédito encolheu, empresários fecharam fábricas e milhões de trabalhadores foram demitidos. A economia a...
EUA ampliam restrições a estrangeiros e corroem sua própria credibilidade como potência global
Américas, Ásia, China, Coréia do Norte, Estados Unidos, Europa, Irã, Oriente Médio, Rússia

EUA ampliam restrições a estrangeiros e corroem sua própria credibilidade como potência global

Uma potência global que almeja liderar o sistema internacional precisa, antes de tudo, inspirar confiança. A confiança não é apenas uma virtude moral ou um discurso diplomático — é um instrumento de poder. Ela é o que torna uma nação atraente para investimentos, parceira desejável em alianças e referência normativa para outras sociedades. Quando os Estados Unidos restringem o acesso de estrangeiros a direitos básicos, como a posse ou o aluguel de imóveis, sob alegações vagas de segurança nacional, o que está em jogo não é apenas a imagem interna de um Estado como o Texas, mas a credibilidade de todo o projeto hegemônico norte-americano. A entrada em vigor do Projeto de Lei 17 do Senado do Texas (SB 17), em setembro de 2025, que proíbe cidadãos e empresas da China, Irã, Coreia do Norte e...
Líderes-culto autoritários são um sintoma global da crise de pertencimento
Américas, Ásia, Brasil, Europa, Hungria, Índia, México, Ruanda

Líderes-culto autoritários são um sintoma global da crise de pertencimento

Em meio ao colapso da confiança nas instituições e à ascensão da alienação individual, emergem líderes que não oferecem caminhos, mas pertença emocional — e isso se transforma em poder. Não se trata apenas de Donald Trump: no mundo todo, de direita ou de esquerda, líderes populistas exploram necessidades profundas de identidade, vingança e ordem, criando seguidores tão fundidos ao líder que qualquer crítica é um ataque pessoal. Esse fenômeno político é explicado por um arco psicológico que se repete em contextos diversos. Primeiro, esses líderes vendem identidade, não política. Eles personificam o ódio ao sistema e canalizam ressentimentos — não com programas, mas com performatividade. Em segundo lugar, oferecem vingança, não soluções: culpam imigrantes, elites, imprensa ou minorias, e ...
Alternativas que disputam a ordem internacional
África, África do Sul, Américas, Ásia, Austrália, China, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), Coréia do Sul, Estados Unidos, Europa, Índia, Japão, Nova Zelândia, Oceania, OCX, OPEP, Organizações Internacionais, Paquistão, Rússia, Sul Global, UEEA - União Econômica Euroasiática

Alternativas que disputam a ordem internacional

A tentativa de criar uma ordem internacional alternativa deixou de ser uma ideia difusa e ganhou corpo em arranjos concretos que se multiplicaram nas últimas duas décadas. O fio condutor é claro: reduzir a dependência de Washington e Bruxelas, diversificar centros de decisão e criar infraestrutura financeira, energética e logística que permita maior autonomia ao Sul Global. A Organização para Cooperação de Xangai, criada em 2001, é o emblema mais visível desse movimento porque combina segurança, política e economia numa mesma plataforma. Mas ela não está só. Em paralelo surgiram ou se fortaleceram blocos econômicos, bancos multilaterais fora do eixo tradicional, iniciativas de integração comercial asiática, redes políticas sul-sul e cartéis energéticos com capacidade de influenciar preços ...
A economia puxa o leme e desestabiliza a política transatlântica
Américas, Estados Unidos, Organizações Internacionais, União Europeia

A economia puxa o leme e desestabiliza a política transatlântica

A confiança entre Estados Unidos e Europa se desfaz mais depressa quando o dinheiro entra na sala. Interesses econômicos divergentes — subsídios, energia, cadeias de suprimento, tecnologia, sanções e mercados finais — empurram Washington e capitais europeias para posições que mudam ao sabor de preços, eleições e lobbies industriais. O resultado é uma política mais instável nos dois lados do Atlântico: governos oscilam entre o discurso de “valores” e a prática de proteger empregos, fábricas e receitas fiscais, corroendo a previsibilidade que, por décadas, sustentou a parceria. O exemplo mais didático vem da corrida industrial por semicondutores, baterias e energia limpa. Quando os Estados Unidos ampliaram subsídios maciços para produção doméstica, empresas europeias fizeram fila para atr...
A diplomacia do clima: como o meio ambiente virou questão geopolítica
Américas, Ásia, Brasil, China, Estados Unidos, Organizações Internacionais, União Europeia

A diplomacia do clima: como o meio ambiente virou questão geopolítica

As mudanças climáticas deixaram de ser um tema exclusivo de cientistas e ativistas ambientais. Hoje, o clima ocupa o centro da política internacional e se transformou em uma poderosa ferramenta de diplomacia, disputa por poder e reconfiguração das alianças globais. A emergência climática não é apenas um problema ambiental — ela é também uma questão econômica, estratégica e, acima de tudo, geopolítica. O principal fator dessa transformação é a transição energética. Países desenvolvidos e emergentes estão sendo pressionados — por seus próprios cidadãos, por mercados financeiros e por novos padrões internacionais — a abandonar combustíveis fósseis e adotar fontes renováveis. Esse processo cria novas cadeias de dependência, altera o equilíbrio entre exportadores e importadores de energia e ...