ISSN 2674-8053

Ásia

A presença chinesa na agricultura africana – “invasão” ou cooperação?
África, Angola, Argélia, China, Estudos, Moçambique, Nigéria

A presença chinesa na agricultura africana – “invasão” ou cooperação?

O objetivo deste estudo é avaliar a presença chinesa na agricultura africana à luz do aumento das discussões sobre uma suposta “invasão” chinesa por meio da compra de terras agricultáveis. Estudos científicos prévios e os poucos dados existentes e confiáveis indicam que não há indícios claros de uma “invasão” chinesa na África, ainda que o interesse dos chineses pela agricultura em solo africano tenha de facto aumentado neste século. Por outro lado, as ajudas e os mecanismos de cooperação técnica aumentaram substancialmente desde o início do século XXI. Parece haver espaço, pois, para parcerias que colaborem com a redução da subnutrição na África a partir da utilização da tecnologia e do know-how chinês. Até o presente momento, pouca evidência existe também sobre a ocupação de terras ...
O binômio filipino: desenvolvimento econômico só será possível com repressão política?
Filipinas

O binômio filipino: desenvolvimento econômico só será possível com repressão política?

A complexidade do cenário político filipino reside na dependência majoritária das relações interpessoais. A grande amplitude do poder patriarcal do “homem cordial brasileiro”, também está presente na sociedade filipina, o que pode ser explicado de certa forma pelas semelhanças na colonização ibérica de ambos países, bem como as amplas estruturas de corrupção no país, que também podem ser consideradas assemelhadas às  “heranças ibéricas”. Para os filipinos, o poder de uma família não é necessariamente relacionado com a riqueza, mas sim com as pessoas que ela consegue influenciar, tanto nas classes médias quanto nas camadas mais pobres da população, que raramente se candidatam a cargos públicos. Neste conluio simbiótico, para ganhar eleições nas províncias, as famílias influentes de...
Lições da história: o dilema afegão
Afeganistão, Estados Unidos

Lições da história: o dilema afegão

O “The Economist” publicou uma matéria que o Estadão replicou, ontem, sobre o dilema com que se confrontam os americanos sobre se devem, ou não, permanecer por mais tempo no Afeganistão. É importante recordar que uma das promessas de campanha de Donald Trump à presidência dos EUA, em 2016, foi a retirada total das tropas americanas. Ele afirmava, então, que os Estados Unidos haviam cometido "um terrível erro ao se envolverem no Afeganistão". Uma vez no poder, porém, D.T. autorizou a permanência e o incremento do efetivo das tropas. Como resultado, os Estados Unidos ainda sediam um contingente de cerca de 14.000 militares no solo afegão. Vale recordar que a presença desse contingente, e dos de outros países ocidentais que ainda estão estacionados no Afeganistão, já data de dezembro d...
São Paulo + RPC x Brasília + EUA = ???
Américas, Ásia, Brasil, China, Estados Unidos

São Paulo + RPC x Brasília + EUA = ???

Polemizando: será esta uma nova equação nas relações internacionais do Brasil? É o que parece sugerir a visita do Governador João Doria à China, no início deste mês, com o objetivo de buscar parcerias para diversos setores da administração pública e empresas do Estado de São Paulo. Ele se fez acompanhar de uma delegação expressiva, que incluiu cinco Secretários de Estado, quatro presidentes de autarquias e trinta empresários de vários ramos. Entre os projetos aventados contam-se a despoluição do Rio Pinheiros, a área dos transportes de cargas e de passageiros, e saneamento básico. Nos encontros que manteve com as autoridades e o empresariado chineses, Doria afirmou ter detectado vivo interesse da parte dos anfitriões em estreitar os vínculos comerciais. Em matéria intitulada “S...
A Caxemira: buscando entender a herança do colonialismo
Índia, Paquistão

A Caxemira: buscando entender a herança do colonialismo

O governo da Índia revogou, no último dia 05, dois artigos da sua Constituição que estabeleciam o estatuto especial que o Estado de Jammu-Caxemira gozava desde o período da independência do país, em 1947. Entre os “desfalques” legais estão o direito à Constituição própria e direitos exclusivos para a população autóctone. Com isto, a região perde sua autonomia e passa a ser tratada como qualquer outro estado da Índia. Quais seriam as consequências? Proponho aos amigos revisitar a História: A Coroa Britânica dominou a Índia de 1858 a 1947. Mas, ao final da II Guerra Mundial, exaurida, ela iniciou o processo de descolonização de seus territórios, começando pelo Raj Britânico. Para tanto, enviou a Delhi um jurista londrino, Sir Cyril Radcliffe, a quem incumbiu de desenhar, num gabine...
A Huawei, a tecnologia 5G e a guerra comercial RPC x EUA
China, Estados Unidos

A Huawei, a tecnologia 5G e a guerra comercial RPC x EUA

Em 1o. de dezembro passado, a Vice-Presidente do Conselho e Diretora Financeira da gigante de tecnologia chinesa Huawei, Meng Wanzhou, filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei, foi detida no aeroporto de Vancouver, no Canadá, por solicitação das autoridades americanas, que pediam sua extradição para os Estados Unidos. A acusação que recaia sobre Meng é que ela havia participado de uma conspiração para fraudar várias instituições financeiras, entre as quais a Skycom - empresa baseada em Hong Kong - em negócios com o Irã, entre 2009 e 2014. Segundo as acusações, Meng lançou mão de suas relações para apoiar a Skycom nas negociações para a venda - ou tentativa - de equipamentos da “Hewlett-Packard Company” (HP), a companhia multinacional americana de tecnologia da informação, para Teerã,...
A respeito do Sufismo
Afeganistão, Índia, Paquistão

A respeito do Sufismo

Estou preparando uma série de palestras sobre o Islã para o curso de Relações Internacionais da ESPM. Este é um tema pelo qual tenho imenso interesse, sobretudo devido aos preconceitos que grassam no Ocidente a respeito da fé e da comunidade muçulmanas. Tendo servido ao longo da minha carreira em seis países onde o Islã é presença maior – Índia (a 3ª. maior comunidade muçulmana do planeta), Paquistão, Afeganistão, Bangladesh, Cazaquistão e Jordânia – e convivido com vários dos seus matizes – da severidade fundamentalista no Paquistão e Afeganistão ao “liberalismo” no Cazaquistão – decidi aprofundar os meus estudos sobre o Islã e compartilhar com os amigos o que pude aprender... E um dos temas que mais me fascinam nesse universo é o sufismo, a corrente mística que busca o contato dir...
A respeito de Hong Kong
China

A respeito de Hong Kong

Hoje aumentou o nível dos protestos em Hong Kong contra o projeto de lei que autoriza a extradição para o Continente de cidadãos, tanto de HK quanto de Macau, acusados de crimes graves, entre os quais assassinato e estupro. Os manifestantes invadiram o Parlamento. Estas manifestações acirram o clima de confrontação, que, no dia 16 de junho passado, haviam levado cerca de dois milhões de pessoas às ruas. Segundo o controvertido projeto, aliás momentaneamente suspenso pela Chefe do Executivo de HK, Carrie Lam, seria o governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong/SAR(RAE) e não o de Pequim que teria a palavra final sobre a extradição. Ainda segundo as autoridades continentais, não seriam extraditados os acusados de crimes políticos e religiosos... Céticos – e descontentes- os ma...
O “affair” Donald Trump & Kim Jong-Un… prá valer ou mais uma “photo op”?
China, Estados Unidos

O “affair” Donald Trump & Kim Jong-Un… prá valer ou mais uma “photo op”?

Como vimos, ao final da 14ª. Reunião do G-20, em Osaka, o Presidente Donald Trump surpreendeu a todos (inclusive seu “staff” e o próprio Kim Jong-un, pelo que transpirou) ao anunciar bruscamente que, no retorno a Washington, faria um “stop over” na Coreia do Sul e entraria na Zona Desmilitarizada que separa as duas Coreias para dar um “alô” a Kim Jong-Un. Este “alô” durou, na realidade 33 minutos. Tal gesto foi visto como “histórico” pela comunidade internacional. E de certa forma o foi, porque esse dia - 30 de junho - marcou a data em que pela primeira vez um Presidente dos EUA entrava em “solo inimigo”, pois, não tendo sido ainda assinado um Acordo de Paz que ponha fim à Guerra da Coreia, até agora os Estados Unidos e a Coreia do Norte estão em guerra, pelo menos “tecnicamente”. Dest...
China e Rússia: “best friends”, enfim?
China, Rússia

China e Rússia: “best friends”, enfim?

Historicamente, os chineses e os russos sempre foram os "melhores" inimigos. Desde os primórdios do comunismo na China, em 1949, os soviéticos olhavam para os maoistas com desdém e até preconceito. É famosa a rixa entre Stalin com Mao, a quem considerava um "camponês" atrasado. Ela tornou-se evidente já desde o dia em que Mao realizou, em dezembro de 1949, logo após a vitória comunista em Pequim, a primeira visita visita fora da RPC. O destino foi justamente Moscou, com o intuito de reforçar os laços ideológicos entre as "irmãs de fé". Porém, com o objetivo de reiterar sua hegemonia no universo marxista, os anfitriões receberam Mao com frieza, e até mesmo desdém. Ele foi mantido isolado num quarto de hotel dias a fio antes de ser finalmente recebido por Stalin. Esta atitude o enraivece...