ISSN 2674-8053 | Receba as atualizações dos artigos no Telegram: https://t.me/mapamundiorg

Ásia

A guerra pelo passado: o nacionalismo como base da política externa chinesa
Ásia, China

A guerra pelo passado: o nacionalismo como base da política externa chinesa

A China do século XXI está em guerra — não apenas por recursos, influência ou rotas comerciais, mas por narrativas. Em meio à sua ascensão como potência global, o governo chinês vem investindo pesadamente em uma reconstrução da história que reforce seu projeto político e sua legitimidade internacional. Esse nacionalismo histórico, centrado na ideia de rejuvenescimento da nação, é hoje uma das bases fundamentais da política externa chinesa. A diplomacia de Pequim não opera apenas com cálculos estratégicos ou interesses econômicos — ela atua com um sentimento profundo de reparação histórica. No centro dessa narrativa está o conceito do “século das humilhações”, período que vai de meados do século XIX à fundação da República Popular da China em 1949. Nesse intervalo, a China foi derrotada ...
Tecnologia e vigilância: o modelo chinês de governança no século XXI
Ásia, China

Tecnologia e vigilância: o modelo chinês de governança no século XXI

O avanço tecnológico costuma ser celebrado como um motor de progresso, inovação e liberdade. No Ocidente, o imaginário digital é associado a redes descentralizadas, autonomia individual e democratização da informação. Na China, porém, a tecnologia foi incorporada à lógica do Estado como ferramenta de governança, eficiência e controle social. O país está construindo um modelo próprio de capitalismo digital autoritário, no qual plataformas, dados e algoritmos são instrumentos de vigilância, estabilidade e planejamento. Esse modelo não apenas redefine os limites entre público e privado, mas também lança um desafio ideológico ao liberalismo digital dominante até aqui. O centro desse modelo é o Estado — mais especificamente, o Partido Comunista Chinês. Diferente dos Estados ocidentais, que r...
A virada geopolítica da China: de potência silenciosa à disputa da ordem global
Ásia, China

A virada geopolítica da China: de potência silenciosa à disputa da ordem global

Durante décadas, a China adotou uma postura internacional discreta, priorizando crescimento interno, comércio exterior e integração econômica sem confrontar diretamente a liderança global dos Estados Unidos. Esse modelo, consolidado sob Deng Xiaoping com o lema “esconder capacidades e aguardar o tempo certo”, permitiu à China transformar-se em uma potência econômica sem provocar reações agressivas. Contudo, nos últimos anos, essa estratégia foi substituída por uma postura mais afirmativa, marcada por ambição global, disputas abertas e a tentativa de reconfigurar a ordem internacional. A China silenciosa tornou-se, hoje, uma potência revisionista com vocação para remodelar as regras do jogo. A transição começou de forma sutil nos anos 2000, quando a China passou a usar seus excedentes co...
O partido como espinha dorsal: o papel do PCC na estabilidade e no progresso
Ásia, China

O partido como espinha dorsal: o papel do PCC na estabilidade e no progresso

Para compreender a China contemporânea, não basta olhar para suas conquistas econômicas ou sua presença crescente na geopolítica global. É preciso entender a estrutura que sustenta e conduz essas transformações: o Partido Comunista Chinês (PCC). Longe de ser apenas uma força política convencional, o PCC é o eixo articulador do Estado, o principal formulador de estratégias nacionais e o pilar simbólico de estabilidade e continuidade histórica. Ele não governa apenas — ele molda a própria lógica da modernidade chinesa. Fundado em 1921 e vitorioso em 1949 após uma longa guerra civil, o PCC assumiu o poder prometendo restaurar a soberania nacional, acabar com o caos interno e conduzir a China à modernização. Essa missão foi consolidada em torno de uma narrativa de salvação e reconstrução na...
A lógica da unidade: a China como Estado civilizacional
Ásia, China

A lógica da unidade: a China como Estado civilizacional

Ao contrário da maioria das nações modernas que nasceram da ruptura com impérios ou da unificação de reinos, a China se enxerga e se organiza como uma civilização contínua, que atravessa milênios mantendo estruturas culturais, linguísticas e políticas estáveis. Esse dado histórico não é apenas um detalhe identitário — ele molda profundamente a maneira como o país administra o poder, estrutura sua governança e se posiciona no mundo. Entender a China como um Estado civilizacional é o primeiro passo para compreender por que a unidade, a centralização e o controle são valores fundantes e inegociáveis para Pequim. A noção de que a China é, antes de tudo, uma civilização está na raiz da ideia de “Tianxia”, ou “tudo sob o céu”, que definia a ordem imperial tradicional. Não se tratava de fronte...
O colapso silencioso de Bretton Woods e o nascimento de uma nova ordem financeira global
Américas, Ásia, BRICS, China, Estados Unidos, Europa, Organizações Internacionais, Rússia

O colapso silencioso de Bretton Woods e o nascimento de uma nova ordem financeira global

A arquitetura financeira que sustenta a economia global desde 1944, moldada nos Acordos de Bretton Woods, vive hoje uma crise estrutural que coloca em xeque sua legitimidade, funcionalidade e capacidade de responder aos desafios de um mundo multipolar. Criado sob a liderança dos Estados Unidos e do Reino Unido no fim da Segunda Guerra Mundial, o sistema estabeleceu o dólar americano como moeda de referência, inicialmente atrelado ao ouro, com o objetivo de garantir estabilidade monetária e fomentar o comércio internacional. Mais de sete décadas depois, esse modelo enfrenta crescentes pressões para ser reformado — ou substituído. A desconexão definitiva entre o dólar e o ouro, promovida em 1971 por Richard Nixon, foi o primeiro grande abalo no sistema. Desde então, a supremacia do dólar ...
Groenlândia, rota do Norte e os segredos econômicos que movem a nova corrida pelo Ártico
Américas, Ásia, China, Estados Unidos, Europa, Rússia

Groenlândia, rota do Norte e os segredos econômicos que movem a nova corrida pelo Ártico

A proposta do ex-presidente Donald Trump de “comprar a Groenlândia” em 2019, que à época foi tratada com escárnio pela imprensa e por líderes europeus, revelou, na verdade, um sintoma claro de uma mudança geopolítica relevante: o Ártico, por décadas ignorado por seu isolamento e condições extremas, tornou-se um dos mais cobiçados tabuleiros estratégicos do planeta. As razões são claras — rotas comerciais emergentes, recursos minerais críticos e reservas energéticas bilionárias estão no centro de uma disputa silenciosa entre potências como Estados Unidos, Rússia, China e países europeus. A Passagem do Nordeste, ou Rota Marítima do Norte, é um dos eixos centrais dessa corrida. Com o avanço das mudanças climáticas e o progressivo derretimento do gelo marinho, a rota que contorna o norte da...
A guerra dos alimentos e fertilizantes: como as cadeias agrícolas revelam a interdependência global
África, Américas, Ásia, Brasil, Canadá, China, Egito, Europa, Índia, Líbano, Oriente Médio, Peru, Rússia, Sri Lanka, Ucrânia

A guerra dos alimentos e fertilizantes: como as cadeias agrícolas revelam a interdependência global

Em um mundo cada vez mais integrado, a segurança alimentar deixou de ser apenas uma questão de produção local para se tornar uma peça central na engrenagem do comércio global. As cadeias agrícolas internacionais, que conectam plantações no Brasil, jazidas de potássio na Rússia, portos na China e silos nos Estados Unidos, formam uma teia complexa e interdependente que garante o abastecimento de bilhões de pessoas. No entanto, quando essa engrenagem sofre choques — seja por guerras, sanções ou disputas geopolíticas — os efeitos são imediatos, difusos e, muitas vezes, devastadores. Grãos e fertilizantes, dois pilares da produção agrícola moderna, estão no centro dessas turbulências e ilustram com clareza os desafios e interesses ocultos que marcam a geopolítica contemporânea. A pandemia de...
Corrida nuclear entre China e EUA isola outros países e redefine alianças com a Rússia
Américas, Ásia, China, Estados Unidos, Europa, Rússia

Corrida nuclear entre China e EUA isola outros países e redefine alianças com a Rússia

A política global de energia nuclear tornou-se mais do que uma disputa por mercados e tecnologia: ela passou a ser um campo de batalha estratégico, no qual Estados Unidos e China lutam por hegemonia e limitam ativamente o desenvolvimento atômico de outros países. Essa confrontação geopolítica se desdobra não apenas em disputas corporativas e acordos bilaterais, mas também na forma como diferentes nações se posicionam frente à Rússia, sobretudo após a guerra na Ucrânia e o aumento das tensões energéticas internacionais. China e Estados Unidos estão investindo fortemente para dominar o mercado nuclear global, buscando estabelecer padrões, firmar contratos de longo prazo e assegurar dependência tecnológica de outros países. A China, com a China National Nuclear Corporation (CNNC) e o avanç...
A geopolítica da fome e os interesses por trás da agenda verde
Ásia, China, Índia, Organizações Internacionais, União Europeia

A geopolítica da fome e os interesses por trás da agenda verde

A segurança alimentar, um dos temas mais urgentes da agenda internacional, está cada vez mais condicionada a disputas políticas, interesses econômicos e estratégias disfarçadas de boas intenções. A busca por um sistema alimentar mais sustentável — promovida por fóruns como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e pelas metas da chamada agenda verde — tem sido usada, em muitos casos, como justificativa para práticas protecionistas e restritivas que dificultam o acesso de países do Sul Global aos mercados e tecnologias necessários para garantir sua soberania alimentar. O paradoxo é evidente: ao mesmo tempo em que organismos internacionais pedem soluções globais e integradas para erradicar a fome, muitas das iniciativas de sustentabilidade acabam impondo barreiras aos paí...