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Autor: Rodrigo Cintra

Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X
A guerra como terreno fértil para a corrupção: o caso da Ucrânia em 2025
Afeganistão, Ásia, Europa, Iraque, Líbia, Organizações Internacionais, Oriente Médio, Somália, Ucrânia, União Europeia

A guerra como terreno fértil para a corrupção: o caso da Ucrânia em 2025

A guerra costuma ser apresentada como um momento de união nacional, sacrifício coletivo e resiliência institucional. No entanto, a experiência histórica e contemporânea mostra que conflitos armados criam também ambientes propícios à corrupção. O colapso parcial das estruturas de controle, a circulação acelerada de recursos externos e a mobilização de verbas emergenciais geram brechas amplas para práticas ilícitas. O caso da Ucrânia, em meio à prolongada guerra contra a Rússia, oferece um retrato perturbador dessa lógica. Desde 2022, quando foi invadida pela Rússia, a Ucrânia se tornou o principal destino de apoio financeiro e militar do Ocidente, recebendo bilhões de dólares em armas, ajuda humanitária, recursos logísticos e pacotes de reconstrução. Ao mesmo tempo, a pressão por manter ...
A emergência de novas vozes no Sul global desafia o sistema internacional tradicional
Américas, Ásia, Banco Mundial, Bangladesh, Chile, Colômbia, FMI, G20, Índia, ONU, Organizações Internacionais, Peru, Quênia, Sul Global

A emergência de novas vozes no Sul global desafia o sistema internacional tradicional

Movimentos sociais, protestos populares e lideranças juvenis em países do Sul global têm se tornado protagonistas de transformações políticas e sociais significativas, desafiando o monopólio das potências tradicionais na definição da agenda internacional. Em 2025, manifestações na África, no Oriente Médio, na Ásia e na América Latina mostram que a política internacional já não se limita aos governos e às grandes potências: ela é cada vez mais influenciada por atores locais que reivindicam participação, justiça social e soberania. Embora historicamente as decisões globais tenham sido concentradas nas mãos de países do Norte — especialmente após a Segunda Guerra Mundial — os últimos anos mostraram o surgimento de uma dinâmica distinta. A juventude urbana, os movimentos feministas, os cole...
O enfraquecimento das instituições multilaterais revela os limites da ordem global construída após 1945
Banco Mundial, OMC, ONU, Organizações Internacionais

O enfraquecimento das instituições multilaterais revela os limites da ordem global construída após 1945

As instituições multilaterais que moldaram a ordem internacional após a Segunda Guerra Mundial enfrentam, em 2025, um processo crescente de fragilização, desconfiança e irrelevância prática. A Organização Mundial do Comércio (OMC), o Conselho de Segurança da ONU, o Banco Mundial e outros organismos outrora centrais na mediação de disputas e formulação de políticas globais tornaram-se espaços onde a paralisia, a seletividade e a disputa por poder substituíram os princípios da cooperação e da estabilidade. A erosão dessas instituições não é apenas um reflexo das mudanças geopolíticas — ela representa também o esgotamento de um modelo de governança que deixou de responder às realidades do mundo atual. O projeto multilateral, nascido do pós-guerra, tinha como meta garantir que regras intern...
A corrida global pela inteligência artificial revela quem definirá as regras do futuro
Américas, Ásia, Brasil, Europa, França, Índia, UNESCO, União Africana

A corrida global pela inteligência artificial revela quem definirá as regras do futuro

O desenvolvimento acelerado da inteligência artificial (IA) não é apenas uma questão de inovação tecnológica — é também uma disputa estratégica por poder, influência e controle sobre as regras que moldarão o futuro. Nos últimos anos, a corrida por estabelecer padrões globais de governança da IA transformou-se num dos principais eixos de tensão e cooperação entre países. Estados Unidos, União Europeia e China disputam esse protagonismo com agendas distintas, enquanto países do Sul Global tentam, com dificuldade, garantir que suas vozes não sejam simplesmente ignoradas. A crescente popularidade de modelos generativos, como os de linguagem, imagem e automação avançada, levou governos a perceberem que regular a IA não é apenas uma necessidade ética, mas uma exigência geopolítica. Ao definir...
África, África do Sul, Américas, Burundi, Europa, Iraque, Organizações Internacionais, Oriente Médio, Reino Unido, TPI - Tribunal Penal Internacional

O Tribunal Penal Internacional julga inimigos e ignora aliados

Desde a sua criação, o Tribunal Penal Internacional (TPI) simbolizou uma esperança de justiça global permanente para crimes de guerra, genocídio e contra a humanidade. Ao mesmo tempo, porém, o seu funcionamento tem sido marcado por uma seletividade evidente, que mina a credibilidade do tribunal como fórum imparcial. A disparidade entre o tratamento dado a diferentes regiões e atores coloca‑se como um entrave à missão universal que o TPI proclama. Um dos argumentos mais contundentes contra o TPI refere‑se à concentração quase exclusiva de casos contra países africanos. Apesar das constantes promessas de uma justiça global, cerca de 47 dos 54 indiciados pelo TPI são africanos. Essa estatística alimenta críticas segundo as quais o tribunal estaria a funcionar como instrumento punitivo volt...
O confisco dos ativos russos e os possíveis ganhos econômicos para Europa e Estados Unidos
Américas, Arábia Saudita, Ásia, Bélgica, China, Estados Unidos, Europa, Índia, Irã, Organizações Internacionais, Oriente Médio, Rússia, Ucrânia, União Europeia

O confisco dos ativos russos e os possíveis ganhos econômicos para Europa e Estados Unidos

A proposta de confiscar ativos estatais russos congelados nos países da União Europeia e utilizá-los para financiar a reconstrução da Ucrânia é apresentada por seus defensores como uma medida moral, política e estratégica. Mas, para além da retórica de solidariedade e punição, esse movimento também pode representar oportunidades financeiras e vantagens competitivas para Europa e Estados Unidos — especialmente em tempos de desaceleração econômica e rearranjos geoeconômicos globais. Hoje, estima-se que mais de US$ 300 bilhões em ativos do banco central russo estejam congelados no Ocidente, dos quais cerca de dois terços encontram-se em instituições financeiras europeias, particularmente na Bélgica. A proposta em discussão envolve não apenas o uso dos rendimentos desses ativos — que render...
Congelar ou confiscar? Europa abre debate perigoso sobre ativos soberanos
Bélgica, Europa, Organizações Internacionais, Rússia, Ucrânia, União Europeia

Congelar ou confiscar? Europa abre debate perigoso sobre ativos soberanos

A proposta em análise pelo União Europeia (UE) de utilizar ativos russos congelados para apoiar a Ucrânia instala‑se no cerne de um debate que vai além da guerra em si: envolve o futuro das regras do direito internacional, da imunidade dos Estados e do precedente que poderá ser criado caso a medida avance. O que se pretende — quem participa da discussão — e por que tal proposta suscita fortes reservas jurídicas e políticas. Desde o início da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, diversos Estados ocidentais congelaram ativos da Rússia — incluindo títulos do banco central russo, reservas e outros ativos financeiros.  Atualmente, a UE discute converter esse “congelamento” em mecanismo de apoio direto à Ucrânia — por meio de um empréstimo ou uso dos rendimentos desses ativos —...
A governança da IA, dados e soberania tecnológica
África, África do Sul, Américas, Ásia, Egito, Estados Unidos, Índia, Organizações Internacionais, União Europeia

A governança da IA, dados e soberania tecnológica

A centralidade da inteligência artificial generativa — e dos dados que a alimentam — está emergindo como peça-chave não apenas da economia digital, mas da geopolítica mundial. A capacidade de treinar grandes modelos com vastas bases de dados, de operar centros de processamento de alta potência e de definir os padrões éticos e regulatórios dessa nova tecnologia está cada vez mais associada à soberania nacional e à influência global. Pesquisas recentes apontam que a chamada “IA generativa” já se tornou um fator geopolítico — moldando acesso, desigualdades e controle. Diante disso, para países do Sul Global, o risco é duplo: permanecer como consumidores ou meros receptores de tecnologias definidas fora, ou construir agora capacidades para participar ativamente da definição das regras do jo...
A Diplomacia Climática em crise e o retorno do Sul Global
Américas, Brasil, Organizações Internacionais, Sul Global, Temas Globais

A Diplomacia Climática em crise e o retorno do Sul Global

A arquitetura climática internacional foi, por décadas, um dos poucos terrenos em que a humanidade parecia capaz de pensar globalmente. Desde a Eco-92, o discurso era claro: o planeta é um só, e seu equilíbrio depende de todos. Mas a retórica de “responsabilidade comum” já não convence. O que se vê, nas palavras recentes de Laurent Fabius — ex-presidente da COP21 e voz respeitada do Acordo de Paris —, é o esgarçamento do multilateralismo climático. “Devemos lembrar aos Estados seus deveres climáticos — e que são as condições para a própria sobrevivência da humanidade.” A advertência soa quase como um epitáfio: a promessa de cooperação global rui diante da competição por tecnologia, dos cálculos eleitorais e da desigualdade entre Norte e Sul. A crise não é apenas ambiental — é diplo...
TPI nasceu como promessa de justiça global, mas hoje serve a interesses seletivos
Organizações Internacionais, TPI - Tribunal Penal Internacional

TPI nasceu como promessa de justiça global, mas hoje serve a interesses seletivos

O Tribunal Penal Internacional (TPI) surgiu como um marco — a criação de um mecanismo permanente capaz de responsabilizar indivíduos por genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade. A ideia representava uma evolução do direito internacional: nenhuma liderança poderia agir com impunidade absoluta. Mas, embora a proposta continue relevante, seu funcionamento real revela fragilidades profundas — vínculos financeiros, influência de fundações e corporações, e uma arquitetura institucional vulnerável a capturas políticas — que comprometem sua função como fórum imparcial de justiça internacional. Desde sua instalação, o TPI contou com o apoio de milhares de organizações da sociedade civil, especialmente no Sul global, como forma de tornar visível a impunidade estrutural. Africanos, asiát...