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Estudos

A disputa por hegemonia e a emergência de ordens alternativas: o mundo já não é unipolar
Estudos, Temas Globais

A disputa por hegemonia e a emergência de ordens alternativas: o mundo já não é unipolar

Introdução: a queda do império invisível Durante grande parte do pós-Guerra Fria, o mundo foi estruturado em torno de uma convicção silenciosa: os Estados Unidos eram, simultaneamente, a maior potência militar, econômica, tecnológica e cultural do planeta — e os guardiões da ordem internacional liberal. Sua liderança era vista não apenas como inevitável, mas como desejável, pois se imaginava que seus interesses coincidiram, em grande medida, com os valores universais da democracia, dos direitos humanos e do livre mercado. O multilateralismo funcionava sob uma lógica peculiar: era, muitas vezes, unilateralismo com legitimidade compartilhada. A unipolaridade americana não era apenas um fato geopolítico — era um estado mental. Esse arranjo, no entanto, começou a se dissolver. De forma d...
A desglobalização e o retorno do nacionalismo: o fim da era da abertura?
Estudos

A desglobalização e o retorno do nacionalismo: o fim da era da abertura?

Introdução: o mundo fechando as janelas Durante décadas, a globalização foi promovida como o caminho inevitável para o progresso. A redução de barreiras comerciais, a integração das cadeias produtivas, a mobilidade de capitais e a circulação de pessoas foram apresentadas como sinais de um novo tempo — mais conectado, mais eficiente, mais próspero. O consenso era quase total: mais globalização significava mais crescimento, mais oportunidades e, a longo prazo, mais estabilidade. Os Estados nacionais, diante dessa lógica, deveriam adaptar-se a um mundo em rede, cedendo parte de sua soberania em nome de uma governança compartilhada e de mercados mais amplos. Essa narrativa, no entanto, começou a ruir silenciosamente ao longo das últimas duas décadas. Os benefícios da globalização se reve...
As contradições internas das democracias liberais: quando a promessa vira ressentimento
Estudos

As contradições internas das democracias liberais: quando a promessa vira ressentimento

Introdução: o liberalismo ferido por dentro Durante décadas, as democracias liberais foram apresentadas como o ponto final da história política. Após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, a combinação entre eleições regulares, economia de mercado e garantias individuais parecia ter se consolidado como o modelo universal de organização social. A promessa era ambiciosa: liberdade política, prosperidade econômica e justiça social em equilíbrio dinâmico. O liberalismo político triunfava não apenas como sistema institucional, mas como narrativa moral — o único horizonte possível de civilização. Contudo, essa promessa não se cumpriu de forma equitativa. Nas últimas décadas, tornou-se evidente que a prosperidade gerada pelo modelo liberal foi distribuída de maneira profu...
A crise das instituições multilaterais: o colapso do centro de gravidade liberal
Estudos

A crise das instituições multilaterais: o colapso do centro de gravidade liberal

Introdução: o colapso silencioso Por muito tempo, a arquitetura institucional criada no pós-guerra foi celebrada como um dos maiores triunfos da razão política moderna. Organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e, mais tarde, a Organização Mundial do Comércio (OMC), foram concebidas como alicerces de uma ordem internacional liberal baseada na cooperação, na regulação multilateral dos conflitos e na promoção da paz e do desenvolvimento. Essa ordem, embora marcada por assimetrias e exclusões, sustentou por décadas uma relativa estabilidade entre Estados, uma expansão do comércio internacional e a consolidação de uma narrativa normativa global: direitos humanos, democracia liberal e economia de mercado como horizonte civ...
Trump e as forças profundas: um sintoma da história, não um homem de Estado
Estudos

Trump e as forças profundas: um sintoma da história, não um homem de Estado

Introdução: o erro de atribuir à personalidade o peso da história Donald Trump costuma ser apresentado como o grande arquiteto da ruptura com a ordem liberal internacional. Para seus detratores, ele é o responsável por desmontar décadas de cooperação multilateral, esvaziar instituições centrais do sistema global e fomentar uma onda de populismo autoritário que se espalhou pelo mundo. Para seus apoiadores, ele teria sido o único capaz de enfrentar o establishment, desafiar a hipocrisia globalista e recolocar os Estados Unidos no centro de seus próprios interesses. Em ambos os discursos, Trump aparece como protagonista absoluto da história recente — um agente transformador, alguém que teria, por força própria, alterado os rumos da política mundial. Mas essa leitura é historicamente mío...
A parálise da OMC ou o fim da ordem econômica mundial que conhecemos
Américas, Arábia Saudita, Banco Mundial, Brasil, China, Estados Unidos, Estudos, Europa, FMI, França, GATT, OIC, OMC, Organizações Internacionais, Rússia

A parálise da OMC ou o fim da ordem econômica mundial que conhecemos

Prédio da OMC, em Genebra A recente e profunda crise da Organização Mundial do Comércio (OMC) é apenas o mais recente sinal do definhamento da ordem econômica mundial. Em artigo de opinião recentemente publicado pelo Washington Post, o professor em política internacional Daniel Drezner antevê o fim da ordem econômica liberal como a conhecemos.[i] De fato há indícios que a economia mundial entra em uma a nova (des)ordem econômica baseada no protecionismo. Não se trata somente do fim do liberalismo como arrazoado pelo Prof. Drezner, corremos também o risco de chegar ao fim do princípio da cooperação econômica. A ordem econômica mundial que conhecemos foi forjada a ferro e fogo ao término da segunda Guerra Mundial e expandida desde o fim da guerra fria. Colocada em marcha no ocidente a par...
A derrota política do neoliberalismo na Argentina e o futuro brasileiro
Américas, Argentina, Brasil, Estudos

A derrota política do neoliberalismo na Argentina e o futuro brasileiro

A vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições presidenciais da Argentina representou um enorme golpe para os movimentos de centro-direita na América Latina. Entre os muitos artigos jornalísticos da imprensa local e de análises especializadas internacionais que circulam desde as eleições primárias na Argentina – em agosto passado e que indicavam uma inevitável derrota de Macri – há um consenso em torno do fracasso econômico do seu governo, sobretudo pela aumento da inflação e endividamento público. [1] O fato dos analistas vincularem a derrota de Macri a políticas econômicas neoliberais acende um alerta para o atual governo brasileiro que se apoia no radicalismo neoliberal como politica econômica. O fracasso do neoliberalismo econômico de Macri se deu apesar de ele se ...
A presença chinesa na agricultura africana – “invasão” ou cooperação?
África, Angola, Argélia, China, Estudos, Moçambique, Nigéria

A presença chinesa na agricultura africana – “invasão” ou cooperação?

O objetivo deste estudo é avaliar a presença chinesa na agricultura africana à luz do aumento das discussões sobre uma suposta “invasão” chinesa por meio da compra de terras agricultáveis. Estudos científicos prévios e os poucos dados existentes e confiáveis indicam que não há indícios claros de uma “invasão” chinesa na África, ainda que o interesse dos chineses pela agricultura em solo africano tenha de facto aumentado neste século. Por outro lado, as ajudas e os mecanismos de cooperação técnica aumentaram substancialmente desde o início do século XXI. Parece haver espaço, pois, para parcerias que colaborem com a redução da subnutrição na África a partir da utilização da tecnologia e do know-how chinês. Até o presente momento, pouca evidência existe também sobre a ocupação de terras no co...
“One Belt, one Road”: A Nova Rota da Seda e a iniciativa chinesa para a integração
China, Estudos

“One Belt, one Road”: A Nova Rota da Seda e a iniciativa chinesa para a integração

O que é a Nova Rota da Seda? A Nova Rota da Seda ─ designada Belt and  Road Initiative (BRI), em inglês ─, é uma iniciativa chinesa proposta no ano de 2013 pelo presidente Xi Jinping. Tratada pelos veículos midiáticos como “One Belt, one Road” (a origem do nome se deu à associação de “Belt” com a Rota da Seda original; e “Road” à área marítima na qual se darão algumas das negociações/transações comerciais). Esta  proposta do  presidente da República Popular da China (RPC) visa uma maior cooperação entre os países do eixo do Pacífico Asiático, Europa e África, através do desenvolvimento, intercâmbio e incentivo aos investimentos em um leque diversificado de setores econômico-comerciais, tais como Logística, Infraestrutura, Tecnologia, entre outros. A respeito, a RPC já...
transformações econômicas em Myanmar no processo de restauração da democracia pelo governo da Liga Nacional pela Democracia, de Aung San Suu Kyi
Ásia, Estudos, Myanmar

transformações econômicas em Myanmar no processo de restauração da democracia pelo governo da Liga Nacional pela Democracia, de Aung San Suu Kyi

Myanmar, o maior país do Sudeste Asiático, conta com uma população de aproximadamente 53 milhões de habitantes, em uma área de 676.578 km². Localizado estrategicamente próximo a China, Índia e Bangladesh, o país desempenha significativo papel tanto geograficamente quanto política e economicamente na região considerada com maior avanço econômico do mundo. Segundo um relatório publicado pelo Banco Asiático de Desenvolvimento, o produto interno global do continente crescerá em 52% até 2050, ou seja, mais da metade da taxa de crescimento mundial. De acordo com o parecer de uma mesa redonda da Organização das Nações Unidas de Desenvolvimento Indústria, “...os países asiáticos começaram a se afastar do baixo rendimento per capita que os perseguiu durante décadas e alcançaram maiores taxas de PIB...