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Autor: Rodrigo Cintra

Pós-Doutor em Competitividade Territorial e Indústrias Criativas, pelo Dinâmia – Centro de Estudos da Mudança Socioeconómica, do Instituto Superior de Ciencias do Trabalho e da Empresa (ISCTE, Lisboa, Portugal). Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2007). É Diretor Executivo do Mapa Mundi. ORCID https://orcid.org/0000-0003-1484-395X
Europa teme que mudanças de fronteiras na guerra reabram velhas feridas internas
Temas Globais

Europa teme que mudanças de fronteiras na guerra reabram velhas feridas internas

A posição firme da Europa contra qualquer alteração territorial que possa resultar da guerra entre Rússia e Ucrânia vai além da solidariedade com Kiev ou do alinhamento estratégico com os Estados Unidos. O ponto central é um temor profundo: se for aberta a porta para reconhecer mudanças de fronteiras pela força, toda a ordem política europeia pode ser colocada em xeque. A defesa da integridade territorial ucraniana é, portanto, também uma defesa preventiva da estabilidade interna do continente. As teorias de relações internacionais ajudam a explicar essa postura. No realismo, a segurança dos Estados depende de reduzir riscos de desequilíbrio no sistema. Reconhecer anexações territoriais criaria um precedente de insegurança, pois encorajaria potências revisionistas a usar a força contra ...
EUA ampliam restrições a estrangeiros e corroem sua própria credibilidade como potência global
Américas, Ásia, China, Coréia do Norte, Estados Unidos, Europa, Irã, Oriente Médio, Rússia

EUA ampliam restrições a estrangeiros e corroem sua própria credibilidade como potência global

Uma potência global que almeja liderar o sistema internacional precisa, antes de tudo, inspirar confiança. A confiança não é apenas uma virtude moral ou um discurso diplomático — é um instrumento de poder. Ela é o que torna uma nação atraente para investimentos, parceira desejável em alianças e referência normativa para outras sociedades. Quando os Estados Unidos restringem o acesso de estrangeiros a direitos básicos, como a posse ou o aluguel de imóveis, sob alegações vagas de segurança nacional, o que está em jogo não é apenas a imagem interna de um Estado como o Texas, mas a credibilidade de todo o projeto hegemônico norte-americano. A entrada em vigor do Projeto de Lei 17 do Senado do Texas (SB 17), em setembro de 2025, que proíbe cidadãos e empresas da China, Irã, Coreia do Norte e...
Olimpíadas, doping e o jogo de interesses ocultos
Agência Mundial Antidoping (WADA), Comitê Olímpico Internacional (COI)

Olimpíadas, doping e o jogo de interesses ocultos

O Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Agência Mundial Antidoping (WADA) se apresentam ao mundo como guardiões da ética esportiva. O discurso é o de preservar o “espírito olímpico” contra o uso de substâncias ilegais e de proteger a saúde dos atletas. Mas por trás dessa narrativa moralizante há uma trama muito mais complexa, onde interesses econômicos, geopolíticos e empresariais desempenham papel decisivo na exclusão de países inteiros das grandes competições. A politização do esporte não é novidade, mas nas últimas décadas ela se tornou mais sofisticada, travestida de zelo ético enquanto responde a pressões de blocos de poder e de conglomerados comerciais que lucram com a reconfiguração do mapa esportivo. O caso mais notório é o da Rússia. Desde 2015, após revelações de um sistema ...
Rússia e Ucrânia: o que a história nos ensina para alcançar a paz duradoura?
Europa, Rússia, Ucrânia

Rússia e Ucrânia: o que a história nos ensina para alcançar a paz duradoura?

A guerra entre Rússia e Ucrânia só terá uma paz estável se o acordo final incorporar, de modo explícito, interesses considerados vitais por Moscou. À luz da ideia de forças profundas de Jean‑Baptiste Duroselle — aquelas correntes estruturais que moldam a conduta dos Estados para além dos governos de turno —, qualquer solução que ignore geografia, demografia, economia política, memória histórica e percepções de segurança russas tende a criar apenas cessar‑fogos frágeis, facilmente revertidos por eventos previsíveis. A tese é simples: a estabilidade depende de compatibilizar o que Ucrânia e Ocidente querem com aquilo que, para a Rússia, é inegociável dentro de seu horizonte estratégico. As forças profundas começam pela geografia. A planície que vai do Volga ao Danúbio, sem grandes barreir...
Líderes-culto autoritários são um sintoma global da crise de pertencimento
Américas, Ásia, Brasil, Europa, Hungria, Índia, México, Ruanda

Líderes-culto autoritários são um sintoma global da crise de pertencimento

Em meio ao colapso da confiança nas instituições e à ascensão da alienação individual, emergem líderes que não oferecem caminhos, mas pertença emocional — e isso se transforma em poder. Não se trata apenas de Donald Trump: no mundo todo, de direita ou de esquerda, líderes populistas exploram necessidades profundas de identidade, vingança e ordem, criando seguidores tão fundidos ao líder que qualquer crítica é um ataque pessoal. Esse fenômeno político é explicado por um arco psicológico que se repete em contextos diversos. Primeiro, esses líderes vendem identidade, não política. Eles personificam o ódio ao sistema e canalizam ressentimentos — não com programas, mas com performatividade. Em segundo lugar, oferecem vingança, não soluções: culpam imigrantes, elites, imprensa ou minorias, e ...
De aliado ocidental a adversário estratégico: a mudança na postura internacional de Vladimir Putin
Europa, Rússia

De aliado ocidental a adversário estratégico: a mudança na postura internacional de Vladimir Putin

Quando Vladimir Putin assumiu a presidência da Rússia no ano 2000, o mundo assistia à consolidação da hegemonia liberal liderada pelos Estados Unidos e seus aliados europeus. A Guerra Fria havia terminado com a vitória do Ocidente, e Moscou, ainda enfraquecida pelo colapso soviético, procurava se reposicionar no novo cenário internacional. Nos primeiros anos de seu governo, Putin cultivou uma imagem pragmática e cooperativa, estabelecendo uma relação de proximidade com líderes como Bill Clinton, George W. Bush e Tony Blair. Ele falava sobre integração econômica, parceria estratégica e até cogitava uma aproximação com a OTAN. Vinte e cinco anos depois, esse mesmo Putin é descrito como adversário do Ocidente, crítico feroz da ordem internacional liberal e promotor de um modelo de governança ...
Alternativas que disputam a ordem internacional
África, África do Sul, Américas, Ásia, Austrália, China, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), Coréia do Sul, Estados Unidos, Europa, Índia, Japão, Nova Zelândia, Oceania, OCX, OPEP, Organizações Internacionais, Paquistão, Rússia, Sul Global, UEEA - União Econômica Euroasiática

Alternativas que disputam a ordem internacional

A tentativa de criar uma ordem internacional alternativa deixou de ser uma ideia difusa e ganhou corpo em arranjos concretos que se multiplicaram nas últimas duas décadas. O fio condutor é claro: reduzir a dependência de Washington e Bruxelas, diversificar centros de decisão e criar infraestrutura financeira, energética e logística que permita maior autonomia ao Sul Global. A Organização para Cooperação de Xangai, criada em 2001, é o emblema mais visível desse movimento porque combina segurança, política e economia numa mesma plataforma. Mas ela não está só. Em paralelo surgiram ou se fortaleceram blocos econômicos, bancos multilaterais fora do eixo tradicional, iniciativas de integração comercial asiática, redes políticas sul-sul e cartéis energéticos com capacidade de influenciar preços ...
A economia puxa o leme e desestabiliza a política transatlântica
Américas, Estados Unidos, Organizações Internacionais, União Europeia

A economia puxa o leme e desestabiliza a política transatlântica

A confiança entre Estados Unidos e Europa se desfaz mais depressa quando o dinheiro entra na sala. Interesses econômicos divergentes — subsídios, energia, cadeias de suprimento, tecnologia, sanções e mercados finais — empurram Washington e capitais europeias para posições que mudam ao sabor de preços, eleições e lobbies industriais. O resultado é uma política mais instável nos dois lados do Atlântico: governos oscilam entre o discurso de “valores” e a prática de proteger empregos, fábricas e receitas fiscais, corroendo a previsibilidade que, por décadas, sustentou a parceria. O exemplo mais didático vem da corrida industrial por semicondutores, baterias e energia limpa. Quando os Estados Unidos ampliaram subsídios maciços para produção doméstica, empresas europeias fizeram fila para atr...
A diplomacia do clima: como o meio ambiente virou questão geopolítica
Américas, Ásia, Brasil, China, Estados Unidos, Organizações Internacionais, União Europeia

A diplomacia do clima: como o meio ambiente virou questão geopolítica

As mudanças climáticas deixaram de ser um tema exclusivo de cientistas e ativistas ambientais. Hoje, o clima ocupa o centro da política internacional e se transformou em uma poderosa ferramenta de diplomacia, disputa por poder e reconfiguração das alianças globais. A emergência climática não é apenas um problema ambiental — ela é também uma questão econômica, estratégica e, acima de tudo, geopolítica. O principal fator dessa transformação é a transição energética. Países desenvolvidos e emergentes estão sendo pressionados — por seus próprios cidadãos, por mercados financeiros e por novos padrões internacionais — a abandonar combustíveis fósseis e adotar fontes renováveis. Esse processo cria novas cadeias de dependência, altera o equilíbrio entre exportadores e importadores de energia e ...
Ocx como alternativa que desafia o equilíbrio internacional
Ásia, China, Europa, Índia, Irã, Oriente Médio, Paquistão, Rússia

Ocx como alternativa que desafia o equilíbrio internacional

A Organização para Cooperação de Xangai (OCX) nasceu em 2001 como um arranjo regional entre China, Rússia e quatro países da Ásia Central. Naquele momento, seu objetivo era apenas administrar fronteiras e fortalecer a segurança diante de ameaças como terrorismo e separatismo. No entanto, ao longo de pouco mais de duas décadas, a OCX transformou-se em algo maior: um projeto que contesta o modelo de governança internacional centrado no Ocidente. Ao reunir hoje potências como China, Rússia, Índia, Paquistão e Irã, além de uma série de observadores e parceiros, o bloco passou a representar não só um fórum de diálogo, mas também um símbolo da busca por uma ordem multipolar. Essa transformação, porém, não se deu sem erros e contradições. Desde sua fundação, a OCX enfrenta o desafio de concili...