ISSN 2674-8053

Autor: Fausto Godoy

Doutor em Direito Internacional Público em Paris. Ingressou na carreira diplomática em 1976, serviu nas embaixadas de Bruxelas, Buenos Aires, Nova Déli, Washington, Pequim, Tóquio, Islamabade (onde foi Embaixador do Brasil, em 2004). Também cumpriu missões transitórias no Vietnã e Taiwan. Viveu 15 anos na Ásia, para onde orientou sua carreira por considerar que o continente seria o mais importante do século 21 – previsão que, agora, vê cada vez mais perto da realidade.
Confúcio e o Corona Vírus
China, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Europa, Itália, Japão

Confúcio e o Corona Vírus

A man stands in a nearly empty street during the Chinese New Year holiday this week in Beijing, China. Getty Images Polemizando... Tempos bicudos os nossos, de controvérsias, “fake news”, antagonismos e, sobretudo, de muita incompreensão. Trancado em casa, li a matéria – “Uma guerra global” - que o cronista Lourival Sant´ Anna publicou no Estadão do dia 29/03 a respeito das divisões entre os países quanto às diferentes maneiras pelas quais eles estão enfrentando a tragédia. Ele fez a seguinte observação sobre como o leste da Ásia está conseguindo curvar a epidemia mais rapidamente que o Ocidente: “...não foi preciso obrigar a nada: o bom senso prevaleceu na população e seus líderes religiosos, que não resistiram a suspender suas atividades”... Por que isto está acontecendo? Es...
A Pax Americana e os talebans
Afeganistão, Estados Unidos

A Pax Americana e os talebans

Após meses de intensas e por vezes dramáticas negociações em Doha, no Qatar, as autoridades americanas e os representantes dos Talebans assinaram no sábado passado, um acordo que visa acabar com a guerra mais longa da história militar dos Estados Unidos, viabilizando a retirada gradual, dentro de treze meses, de suas tropas e das dos demais países-membros da OTAN, do Afeganistão. Conforme se recorda, elas invadiram o país em 07 de outubro de 2001, na esteira dos ataques da Al Qaeda ao “World Trade Center”, em 11 de setembro daquele ano. Num primeiro estágio, o acordo viabilizará a libertação e a troca de seis mil prisioneiros, nos próximos 135 dias, no que é considerado como “a meaningful reduction of violence". A elas seguirão as negociações entre as próprias facções afegãs, que ...
UE x EUA x RPC = Hwawei/BR (?)
Américas, Brasil, China, Estados Unidos

UE x EUA x RPC = Hwawei/BR (?)

Da solução desta (im)possível equação depende o futuro da tecnologia e, por extensão, da geoeconomia neste século. Trocando em miúdos, ela demonstra (c.q.d.) a disputa entre a União Europeia, os Estados Unidos e a República Popular da China pela tecnologia 5G, que definirá o futuro do planeta, segundo os analista O mega-magnata húngaro-americano George Soros, conhecido por seu apoio às causas políticas progressistas e liberais, para as quais distribui doações por meio de sua fundação – a “Open Society Foundation” - e que teve um papel influente no colapso do comunismo na Europa Oriental, já se manifestou. Referindo-se à reunião de Cúpula entre o presidente chinês, Xi Jinping com vinte e sete chefes de Estado e de governo europeus prevista para setembro deste ano, em Leipzig, alerta...
Antes tarde… Bolsonaro na Índia… finalmente
Américas, Brasil, Índia

Antes tarde… Bolsonaro na Índia… finalmente

O presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, durante reunião no Palácio do Planalto nesta quarta (13) — Foto: Alan Santos/PR O Presidente Jair Bolsonaro será o hóspede de honra do governo indiano nas celebrações do “Dia da República”/ “Republic Day”, no próximo dia 26, data em que a Índia comemora a entrada em vigor da sua Constituição, que veio substituir o status de “Domínio” do Raj Britânico, finalizando, assim, o seu traumático processo de descolonização. Juntamente com o dia 15 de agosto, data da sua independência, estas são as duas maiores efemérides políticas celebradas no país (as religiosas à parte... há muitas...). O convite foi feito quando o Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, participou da reunião dos BRICS em Brasília. Ser o convi...
Donald Trump e a questão iraniana: beco sem saída?
Afeganistão, África, Arábia Saudita, Estados Unidos, Irã, Iraque, Oriente Médio

Donald Trump e a questão iraniana: beco sem saída?

A mais recente façanha no longo “imbroglio” dos Estados Unidos com o Oriente Médio islâmico acaba de acontecer através de um “drone”- o "MQ-9 Reaper -, lançado, por ordem direta de Donald Trump (D.T.), do solo americano, em resposta à quase invasão da Embaixada americana em Bagdá, motivo imediato alegado. Com isto, os EUA alcançaram a “proeza” de matar o general iraniano Qassem Suleimani, quando ele desembarcava no aeroporto de Bagdá. E com ele outras importantes personalidades do estamento militar iraniano e iraquiano. Como todos nós estamos informados, Suleimani não era um general qualquer, mas o líder da “misteriosa” Força Quds, falange de elite da Guarda Revolucionária do Irã, criada ainda em 1980 – portanto, apenas um ano após a chegada do clero xiita ao poder em Teerã – e vin...
O “affair” Xi Jinping @ Vladimir Putin
China, Estados Unidos, Rússia

O “affair” Xi Jinping @ Vladimir Putin

Oleodutos russos, destaque para "Power of Siberia" Por anos – e haja anos... – a China e a Rússia/URSS foram os “melhores inimigos”. Irmãos de fé ideológica, separava-os o que embasa muitos relacionamentos entre as nações: a disputa pelo poder. Ou seja, o credo comunista não foi suficiente para matizar tal realidade geopolítica. As raízes deste conflito remontam à época em que Mao Zedong e suas tropas entraram na Cidade Proibida, em outubro de 1949. Cabe recordar, aliás, que naquele momento Moscou apoiava o governo nacionalista de Chiang Kai-shek, que os maoístas “expulsaram” para Taiwan. Além do mais, Mao tinha marcado distância à ortodoxia ideológica soviética e desenvolvido a sua própria, baseada mais nas condições do campesinato chinês do que no operariado urbano da URSS. A v...
O jantar do “filho do Sol” com Amaterasu
Japão

O jantar do “filho do Sol” com Amaterasu

https://cdn.shopify.com/s/files/1/1042/6996/articles/Amaterasu-Omikami_800x.jpg?v=1566968228 Dia 14 de novembro o Imperador Naruhito completou o ritual de sua ascensão ao Trono do Crisântemo do Japão, substituindo o seu pai, Akihito. Ele passou a noite isolado numa casa de madeira degustando pratos de cada uma das regiões do país; simbolicamente ele estava jantando com a sua ancestral, Amaterasu, a “deusa filha do Sol”. Segundo a tradição, Naruhito é o 126º descendente do mitológico fundador do Império do Sol Nascente, o Imperador Jimmu, que teria vivido no século VI a.C. Jimmu é considerado o descendente direto da deusa. Entretanto, o registro histórico da dinastia remonta ao Imperador Ojin, que teria reinado no início do século V. A monarquia japonesa é a mais antiga - em continui...
Brasil e China: um “caso”?
Américas, Brasil, China

Brasil e China: um “caso”?

O Presidente da China, Xi Jinping, partirá do Brasil tão logo terminada, hoje, a reunião do BRICS. É conveniente fazer um balanço desta visita – e da reunião, obviamente (o que tentarei fazer mais tarde...). Para tanto, vamos imaginar que somos um analista estrangeiro que reflete com um “olhar frio” e descompromissado sobre os resultados efetivos da visita. Para tanto, voltemos a 1974, ano em que Brasília transferiu seu relacionamento de Taipé para Pequim, em pleno governo militar. Já era tarde, pois fomos um dos últimos países “relevantes” a deserdar Taiwan em favor da China, ainda maoísta (Mao então vivia...). Até o Presidente Nixon já havia estado em Pequim, em 1972, e aberto o caminho para a inauguração das relações sino-americanas, que Jimmy Carter formalizaria em 1979. Isto fo...
A saga – ou quebra-cabeças – da Síria…
Estados Unidos, Irã, Oriente Médio, Rússia, Síria, Turquia

A saga – ou quebra-cabeças – da Síria…

Donald Trump decidiu, em sua "grande e inigualável sabedoria" (sic), ordenar a retirada das tropas americanas do norte da Síria e encerrar o que qualificou de “uma guerra sem fim”. Com isto entregou a aliada “Forças Democráticas da Síria” (FDS), milícia curda que controla parte da fronteira entre a Síria e a Turquia e detém em cativeiro milhares de membros do Estado Islâmico junto com suas famílias, à sua própria sorte. Lembremo-nos de que os EUA e as FDS têm sido parceiros na luta contra o grupo extremista que hoje se encontra quase derrotado. A decisão de D.T. desencadeou, internamente, uma série de reações do parlamento norte-americano. O seu confronto com os membros do Partido Democrata alcançou grande contundência quando num “briefing” para os membros da Câmara dos Representantes,...
Lições da história: o dilema afegão
Afeganistão, Estados Unidos

Lições da história: o dilema afegão

O “The Economist” publicou uma matéria que o Estadão replicou, ontem, sobre o dilema com que se confrontam os americanos sobre se devem, ou não, permanecer por mais tempo no Afeganistão. É importante recordar que uma das promessas de campanha de Donald Trump à presidência dos EUA, em 2016, foi a retirada total das tropas americanas. Ele afirmava, então, que os Estados Unidos haviam cometido "um terrível erro ao se envolverem no Afeganistão". Uma vez no poder, porém, D.T. autorizou a permanência e o incremento do efetivo das tropas. Como resultado, os Estados Unidos ainda sediam um contingente de cerca de 14.000 militares no solo afegão. Vale recordar que a presença desse contingente, e dos de outros países ocidentais que ainda estão estacionados no Afeganistão, já data de dezembro d...